A Páscoa nossa de cada dia!

Publicado em Artigos, por Redação em 20/03/2024


Introdução

 

No Ciclo Pascal relembramos os últimos instantes da vida terrena de Jesus. O lava-pés como símbolo do serviço; a sexta-feira santa com as sete palavras da cruz, que nos fazem sentir de alguma forma os momentos finais da vida de Cristo, nos fazendo rememorar a entrega de Jesus na cruz para libertar e salvar a humanidade. O sábado, conhecido como sábado de aleluia, vivemos o tempo de esperar e refletir sobre estes acontecimentos.


E, finalmente, no domingo celebramos a ressurreição. Domingo da Páscoa... momentos marcantes na vida cristã que certamente nos acompanham em nosso cotidiano. Afinal, tempo de Páscoa é tempo de celebração, mas também de reflexão. Celebração da vida e da esperança renascida, e de reflexão sobre a acolhida dessa bênção que nos foi concedida. Cabe-nos, por isso, viver a Páscoa, que significa saltar, atravessar. Precisamos parar e atravessar! De um lado, parar para pensar o que Jesus fez por nós; e, de outro, atravessar os desertos da caminhada em esperança solidária. Seja parando ou atravessando, o reino de Deus é quem nos move! Tem uma música infantil, de uma querida musicista metodista, Neusa Cézar da Silva, que afirma: “Páscoa é vida, páscoa é amor, páscoa é Jesus vivo em meu coração”. Este cântico pascal resume o que devemos aprender com a Páscoa de Jesus.

 

Depois dos eventos celebrativos vem o cotidiano. As segundas-feiras da nossa existência... e parece que nestes dias os desafios têm tons mais intensos, mais sombrios, mais temerosos... Nestas ocasiões costumamos perguntar: o que fazer diante do que vivemos e do que está por vir à luz da presença do ressurreto?

 

Pensando nisso, lembremo-nos de que Maria Madalena havia testemunhado aos discípulos que o Senhor havia ressuscitado, mas eles ainda não acreditavam. Diante disso, no texto de João capítulo 20.19-23 Jesus está ensinando Seus discípulos sobre como acolher a Páscoa e vivê-la no cotidiano... mesmo em meio ao medo, às interrogações, às dificuldades e às vicissitudes da vida. Vejamos algumas atitudes para que isso aconteça.

 

Reencontrar-se com Jesus (v. 19,20)

 

19 Ao cair da tarde daquele dia, o primeiro da semana, trancadas as portas da casa onde estavam os discípulos com medo dos judeus, veio Jesus, pôs-se no meio e disse-lhes: Paz seja convosco!
20 E, dizendo isto, lhes mostrou as mãos e o lado. Alegraram-se, portanto, os discípulos ao verem o Senhor (Almeida Revista e Atualizada – ARA).

 

A angústia, o medo e a falta de esperança daqueles/as irmãos/ãs redundaram em um trancafiamento dentro da casa, ou seja, fecharam-se com chaves e traves. Estava toda a comunidade reunida na casa no final da tarde e a angústia compartilhada era semelhante àquela sentida pelos/as discípulos/as no início da noite em que ocorreu a prisão de Jesus. Esse medo denota insegurança... afinal, faltava-lhes o Senhor ressuscitado.

 

Nesse contexto, somente a presença de Jesus poderia dar segurança e alegria. Deste modo, os/as irmãos/ãs estavam trancados/as dentro da casa, Jesus surge no meio deles/ as e, inicialmente, lhes deseja a paz. Paz esta diferente da paz romana, ou pax romana, pois esta última oprimia e amedrontava as pessoas porque só era alcançada com obediência cega às ordens, com silêncio diante das violências dos poderosos e com o pagamento de tributos.

 

Jesus anuncia outra paz, aquela que havia sido proclamada muitas vezes e que, pouco antes da sua morte, foi anunciada por Ele em João 14.27: Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou, no intento de que essa palavra fosse uma verdade no coração e na vida dos/as discípulos/as. A saudação da paz aqui diz respeito ao reencontro de Jesus com os/ as irmãos/ãs. O Mestre toma a iniciativa do reencontro, certamente querendo mostrar que Ele havia chegado para ficar. Essa paz liberta a comunidade do medo que lhes paralisava. Juntamente com a paz Ele anuncia o amor. Tal fato se percebe quando Jesus mostra as mãos e o lado, ou seja, sinais do amor pleno sentido e dedicado à toda humanidade. Um amor sem limites que vence a morte e todo o seu aparato. Tão grande amor sinaliza a vitória sobre a morte, aponta para o cumprimento das promessas e motiva os/as irmãos/ãs a realizarem ações amorosas. Rememoremos a música: “Páscoa é amor”!

 

Quando os/as discípulos/as se equibilibram e se reencontram na paz e no amor de Jesus então eles/as estão prontos/as para acolherem o Espírito Santo. É interessante que o versículo 20 afirma: “alegraram-se portanto os discípulos”. E, de fato, a presença de Jesus é motivo de alegria, alegria esta que deve ser compartilhada com todos e todas. A comunidade, ao reencontrar-se com Jesus, é fortalecida e encorajada para continuar a sua missão.

 

Mover-se pelo Espírito (v. 21-23)


21 Disse-lhes, pois, Jesus outra vez: Paz seja convosco! Assim como o Pai me enviou, eu também vos envio.
22 E, havendo dito isto, soprou sobre eles e disse- lhes: Recebei o Espírito Santo.
23 Se de alguns perdoardes os pecados, são-lhes perdoados; se olhos retiverdes, são retidos (Almeida Revista e Atualizada – ARA).

 

O termo paz utilizado inicialmente tinha o objetivo de acalmar a comunidade que estava trancada com medo dentro da casa. Agora a paz é utilizada para animar os/as discípulos/as para cooperar com a missão de Deus. O evangelho precisava ser vivido e anunciado e, para tanto, o Espírito Santo é quem ajuda e capacita os/as discípulos nesta tarefa. Os discípulos e as discípulas estavam sendo chamados por Jesus para semear o amor e a paz em meio ao ódio, a morte e a injustiça. Então, finalmente, o Espírito é derramado sobre os/as discípulos/as.

 

A partir daquele instante, a comunidade nunca mais se sentiria só, pois o Espírito de Jesus estaria sempre presente. O Espírito daria ânimo para quem se  encontrasse desanimado/a, alento para quem estivesse oprimido/a e força para quem se achasse cansado/a e sobrecarregado/a. Por isso, “Páscoa é Jesus dentro do nosso coração,” concedendo sentido para a vida. Agora há um objetivo certo, ou seja, a Igreja, após o sopro de Jesus, irá fazer brilhar no mundo a luz de Jesus que é feita de paz e amor. Isso se expressará com ações e palavras de salvação, libertação, consolação e restauração.

 

O sopro de Jesus sobre os discípulos, mencionado neste texto, reforça o agir do Senhor concedendo força vital às  pessoas: “Recebei o Espírito Santo”. Se, em conformidade com o texto de Gênesis 2.4-25, Deus sopra no ser humano para que ele viva, aqui, em João 20.21-23, Jesus sopra sobre a comunidade de discípulos e discípulas para que ela faça com que outras mulheres e homens vivam.  Interessante porque o texto termina com a frase: “Àqueles a quem perdoardes os pecados, lhe são perdoados; e àqueles a quem os retiverdes, lhe são retidos”, ou seja, as injúrias, as difamações e a falta de compreensão que levaram Jesus a cruz seriam, também, experimentadas pelas discípulas e discípulos... E mais uma vez Jesus rememora o que disse na cruz: Pai perdoa, porque não sabem o que fazem. O perdão é aquele capaz de deixar ir sem castigo. É como se Jesus dissesse: “vocês têm a nova vida que eu vim trazer, não voltem atrás... sigam em frente... a falta de perdão aprisiona quem está com ele... sejam livres”! Assim, cada pessoa da comunidade de Jesus seria movida pelo Espírito e se comprometeria integralmente com o evangelho.

 

Algumas considerações 

 

O texto sagrado nos mostra dois movimentos importantes para vivermos a Páscoa nossa de cada dia: um é interno, quando Jesus se apresenta a nós; e o outro, é externo, quando Ele nos envia para a vida a fim de cooperarmos com a missão de Deus. Mas não o faz de qualquer forma... concede-nos o Espírito Santo... o consolador, o ajudador, Aquele que nos ajuda em nossas fraquezas... que intercede por nós com gemidos inexprimíveis... Se evidencia, portanto, que Jesus está conosco... seu espírito nos impulsiona... o seu sopro, o seu vento nos leva onde Deus deseja que estejamos... 

 

Vamos celebrar, viver a Páscoa nossa de cada dia e reafirmar o nosso compromisso com Deus de vivermos vida plena, pois foi para isso que Ele ressuscitou. Assim como Jesus, todos nós fomos ressuscitadas/os por Sua vida, morte e ressurreição. Afinal, ter fé não nos isenta dos desafios, mas nos ajuda a vivenciá-los e superá-los pela graça de Deus, a fim de vivermos a nossa ressurreição de cada dia... a nossa Páscoa de cada dia com vida, amor com Jesus em nosso coração!

 

Que Deus nos abençoe hoje e sempre.

 

Revda. Suely Xavier dos Santos
Igreja Metodista em Vila Planalto – 3ª RE


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