Ajuda do Alto
A DANÇA DOS ANOS
O privilégio de envelhecer
Incrível. Meus superpoderes estão ficando cada ano mais fracos. Desde adolescente, e até a minha idade do aço, perto dos 45 anos, eu praticamente não tinha defeitos: corria como um atleta; nunca fiz cirurgia; minha mente era afiada como espada de samurai; e uma disposição física de fazer inveja aos atletas olímpicos. Era comum eu caçoar dos mais velhos que precisavam daquele tempinho para um cochilo no meio do dia: “é a idade!”.
De repente, 50! Eis que percebo que não estou mais com aquele entusiasmo com que estava acostumado. Penso bastante para fazer exercícios e já os vejo como sofrimento. Durante o dia, sinto a necessidade de desligar a máquina por alguns minutos para recuperar o entusiasmo. Ando precisando repor algumas peças e óleos em partes dos meus motores humanos, e assim por diante.
Em muitas ocasiões, ficamos sem compreender o porquê nosso corpo não responde com a agilidade da nossa mente. A dicotomia entre o tempo da natureza, e o tempo das máquinas, é um reflexo marcante da sociedade contemporânea. Num dia desses, de extrema correria, me peguei preocupado sobre a possibilidade de o carro quebrar e ficar a pé: “o que vou fazer?”. Então fiz uma retrospectiva e percebi que todas as vezes que aconteceu, agendei um horário na oficina e fui buscar na hora prevista, quando icava pronto. São peças, que trocam com parafusos e são colocadas outras no lugar e funciona como novos.
Durante a nossa vida, estamos nos acostumando com as máquinas e a tecnologia que não falham. E nossa mente e corpo estão sendo condicionados para esse lado, fazendo-nos a ser comparados a elas. Enquanto a natureza nos convida a desacelerar e apreciar o momento, as máquinas nos impulsionam a correr o tempo todo; afinal, elas não cansam. A consciência dessa diferença já contribuiria uito para termos uma vida mais coerente e equilibrada. O ser humano deve desenvolver uma trava biológica para informar que é feito de água e carne, e tem um limite que se não for respeitado, pode enlouquecer uma pessoa, literalmente.
Não é assim com os homens e mulheres que Deus criou. Somos pessoas limitadas, que nascem, crescem, viram superpoderosos e começam a fazer o caminho contrário, só que em direção à eternidade, onde Jesus foi preparar morada, e envelhecer e morrer faz parte do trajeto. Na prática é comum vermos pessoas infelizes e doentes porque tentam cumprir uma agenda atual com características físicas e sociais do passado. Eu, com 52 anos, não vou conseguir fazer tudo o que fazia quando tinha 20 ou 30, sem ter consequências na minha saúde ou relacionamentos.
A sabedoria dos anos
A velhice é vista como uma fase da vida marcada por desafios físicos e emocionais. No entanto, é também uma etapa repleta de valor inestimável, especialmente no contexto cristão, onde a Bíblia e a tradição cristã exaltam a sabedoria e a experiência que acompanham a idade avançada. Minha avó tem 99 anos e ansiamos pela festinha de 100 no ano que vem. Mulher lutadora e com sabedoria. Lembro-me dela apartando a briga dos meus pais: “fulana, quando um fala, o outro tem que ficar quieto!”, aconselhava.
A Bíblia frequentemente associa a velhice com sabedoria e entendimento. Em Provérbios 16.31, lemos: “Coroa de honra são as cãs, quando se acham no caminho da justiça”. Este versículo destaca que os cabelos grisalhos são um símbolo de honra, uma coroa que denota uma vida vivida em justiça e retidão. Essa visão contrasta com a cultura contemporânea, que muitas vezes valoriza a juventude em detrimento da experiência acumulada ao longo dos anos. No contexto contemporâneo, o valor da pessoa idosa pode ser subestimado em uma sociedade que idolatra a juventude e o vigor físico.
No entanto, muitos idosos continuam a contribuir significativamente para a sociedade e para a comunidade cristã de maneira única e valiosa. A velhice traz consigo não apenas sabedoria, mas também uma profunda resiliência. Os idosos já enfrentaram inúmeras crises e mudanças em suas vidas, o que lhes confere uma perspectiva única e valiosa. Sua fé foi testada e fortalecida ao longo dos anos, tornando-os exemplos vivos de perseverança e confiança em Deus.
Charles Spurgeon, um dos maiores pregadores da história cristã, disse certa vez: “Há um poder na experiência. Quem não conhece o Senhor, por mais jovens e vigorosos que sejam, não podem ter o poder daquele que tem conhecido a Deus ao longo de uma vida inteira”. A experiência dos idosos na fé, é um tesouro que deve ser valorizado e buscado pela Igreja.
Exemplos bíblicos de idosos notáveis
A Bíblia está repleta de exemplos de idosos que, mesmo em idade avançada, continuaram a ser instrumentos poderosos nas mãos de Deus. Um dos exemplos mais marcantes é Abraão, que, aos 75 anos, foi chamado por Deus para deixar sua terra natal e seguir em direção a uma nova terra que Ele lhe mostraria (Gênesis 12.1-4). Abraão não apenas obedeceu, mas também se tornou o pai de muitas nações, conforme a promessa divina.
Outro exemplo é Moisés, que foi chamado por Deus para liderar o povo de Israel para fora do Egito quando já tinha 80 anos (Êxodo 7.7). A idade avançada de Moisés não foi um impedimento para que ele realizasse um dos maiores feitos da história bíblica. Em vez disso, sua experiência e profunda fé foram fundamentais para enfrentar os desafios que surgiram ao longo da jornada do êxodo. Esses exemplos bíblicos nos ensinam que a idade não limita a capacidade de alguém de servir a Deus ou de realizar grandes coisas. Pelo contrário, a experiência de vida pode ser uma grande aliada na missão que Deus confia a cada um.
Amo conversar com os idosos. Suas experiências de vida são estímulos que nos mostram o caminho a ser seguido. Não sei como serão os idosos do futuro, e tenho minhas dúvidas se chegarão sãos, pois como já mencionei, estão vivendo como as máquinas. Além do mais, a maioria não quer mais filhos, o que não combina com uma pesquisa realizada por uma sociedade de Gerontologia de São Paulo, onde o maior medo do idoso brasileiro é a solidão. Estarão sozinhos na velhice, desprezando hoje a alegria de uma casa cheia no futuro.
Na igreja, os idosos desempenham um papel vital. Eles são frequentemente os pilares de oração, aqueles que, com sua sabedoria, orientam os mais jovens e os novos na fé. Tito 2.2-5 exorta os homens e mulheres mais velhos a serem exemplos de fé, amor e perseverança, e a ensinarem os mais jovens a viverem de forma que agradem a Deus.
Além disso, muitos idosos continuam a servir em suas igrejas como conselheiros, professores de Escola Dominical, líderes de grupos de oração, e em outros ministérios. Eles trazem consigo um legado de fé e devoção que enriquece a vida da igreja e inspira as gerações mais jovens.
Preparando o futuro
Para os jovens de hoje conservarem a beleza da idade, como muitas pessoas são hoje, seguem alguns conselhos básicos:
Mantenha-se ativo. O exercício físico regular é fundamental para a saúde cardiovascular, a força muscular e a flexibilidade. Praticar atividades físicas desde cedo ajuda a prevenir doenças crônicas, como diabetes e hipertensão, e melhora a saúde mental. Encontre uma atividade que você goste, como caminhada, corrida, natação, ciclismo ou dança, e incorpore-a em sua rotina.
Continue aprendendo. O aprendizado contínuo mantém o cérebro ativo e engajado. Desafie-se a aprender novas habilidades, idiomas ou hobbies. Mantenha-se curioso e aberto a novas experiências. O aprendizado ao longo da vida não apenas fortalece a mente, mas também traz um senso de propósito e realização pessoal.
Cultive uma vida de oração e meditação. A saúde espiritual é tão importante quanto a saúde física e mental. Cultivar uma vida de oração e meditação desde cedo fortalece a conexão com Deus e proporciona uma fonte de paz e orientação em todas as fases da vida. A oração regular também ajuda a desenvolver gratidão, paciência e confiança em tempos de incerteza.
Estabeleça hábitos de economia e planejamento financeiro. A segurança financeira é um aspecto importante do bem-estar na velhice. Desde cedo, adote hábitos de poupança e planejamento financeiro. Invista em educação financeira e faça escolhas conscientes sobre como gerenciar seus recursos. Isso ajudará a garantir uma velhice tranquila e sem preocupações financeiras.
Envelhecer de forma saudável não é apenas uma questão de sorte ou genética: é o resultado de escolhas conscientes feitas ao longo da vida. Ao cuidar do corpo, da mente e do espírito desde cedo, os jovens podem se preparar para uma velhice cheia de vitalidade, propósito e paz. Lembre-se das palavras de Salmos 92.14: “Mesmo na velhice darão fruto; permanecerão viçosos e verdejantes”.
Que essas práticas o ajudem a construir uma vida que continue a dar frutos, mesmo na velhice.
Pastor Fábio Alcântara
Igreja Metodista Central em Curitiba