Se for Santa a Raiz, Também os Ramos o Serão
A observação, mesmo que superficial, de nossa socie dade aponta e denuncia a fragilidade de nossas relações com o outro e com Deus. Não obstante – em nosso país – termos um crescimento interessante dos grupos intitula dos evangélicos, ainda assim nossa sociedade parece estar adoecida pela falta de reflexão e profundidade no conheci mento do que de fato pode e deva ser a vida, a verdade e o caminho, propostos por Jesus.
Vivemos a velocidade das entregas rápidas (“fast de livery”). Tudo deve ser para ontem. Compro agora e me angustio com o tempo necessário para que a remessa de minha encomenda seja feita e chegue às minhas mãos. Te mos dedos nervosos nas telas de nossos celulares, quere mos respostas rápidas para qualquer assunto e para isso recorremos às inteligências artificiais. Assuntos para pes quisa não faltam: desde os aleatórios, as fofocas do dia, a busca por respostas quando estamos enfermos, composi ção de músicas, ah! e até as teológicas. Tudo é respondido em uma tela.
A velocidade com que estamos vivendo acelera tanto nossos rituais cotidianos que já não refletimos sobre qua se nenhum assunto, mesmo quando ele é importante para uma decisão que valerá para toda a vida. Preferimos bus car a ajuda da “santa telinha celular” e, por vezes, a tela maior de um computador.
Parece inevitável viver assim. Mas não é, e não deve ser. Este estilo de vida esta criando uma sociedade refém, escravizada a senhores poderosos, invisíveis, que con trolam seus servos com o antigo e conhecido “pão e cir co”– política disseminada na antiga Roma para controlar a população e não permitir levantes, revoluções por causa das necessidades sociais. Ofereça facilidades para suprir as necessidades básicas e prazeres temporais e a reflexão sucumbe.
O cristianismo parece ter adotado este mesmo recurso a fim de que as massas conversas (ou convertidas) mante nham-se em obediência às suas lideranças. São propostas celebrações hedônicas, onde ao prazer está acima do ser viço a Deus. Onde temas como pecado, confissão, reve rência, silêncio, serviço, responsabilidade, e outros semelhantes são dispensados da prédica e do ensino porque não necessariamente produzem prazer aos ouvintes.
A sociedade e nela o cristianismo contemporâneo, em nada se assemelham a uma oliveira, com a qual Paulo com para os cristãos. As oliveiras são árvores fortes, frutíferas, resilientes. As suas raízes – com cerca de cinco a seis metros de profundidade –, são capazes de perfurar o solo duro, com pedregulhos, árido, para buscar o frescor das águas que ali mentam a planta toda. As oliveiras são capazes de suportar calor e frio intensos, e ainda assim produzirem seus frutos. Oliveiras antigas examinadas por botânicos revelam-se com idades centenárias e algumas milenares. Não à toa, a Bíblia (Antigo e Novo Testamentos) compara os que têm fé em Jesus Cristo às oliveiras: afinal, elas são exemplo de resi liência, de capacidade de enfrentamentos das intempéries e continuarem no vigor da produção de frutos.
O Jubileu de Oliveira que a revista Voz Missionária está celebrando é uma expressão desta resiliência, desta luta por educar com profundidade, de forma reflexiva. Aquelas e aqueles que se propõem e se permitem ler, re f letir, com serenidade a Palavra de Deus, serão também oliveiras frutíferas em sua família, em suas comunidades de fé e na sociedade. Terão raízes profundas que buscam o fortalecimento da fé, a compreensão profunda da ação de Deus Pai em nós por meio da graça – revelada em Jesus – e o caminhar diário com o Espírito Santo.
Como afirma o apóstolo Paulo em Romanos 11.16: se as raízes forem santas, também os ramos o serão, porque as raízes é que sustentam os ramos. Cuidemos bem de nossas vidas – resultantes do enxerto de ramo bravo em oliveira boa –, para que a própria vida e nossas celebra ções não sejam apenas “pão e circo”, mas árvores de raízes profundas e fortes plantadas no jardim do Senhor como oliveiras frutíferas (Salmo 52.8).
Face a face com a Palavra é que podemos ser árvo res radicadas, frondosas, frutíferas, verdadeiras oliveiras centenárias proclamando o evangelho do reino.
Abraço forte do irmão em Cristo,
Marcos Munhoz da Costa