Plantão da Fé

Publicado em Notícias, por Redação em 27/12/2024


O DIVINO ESCRITOR DA BÍBLIA

 

Na biblioteca, coleção de livros (é assim no original grego), que temos o privilégio de manusear e na mente, estampa a beleza que mais se lê e mais se vende em todo o mundo. Já foi chamada Ta Bíblia, os livros. Do plural grego, passou para o singular e feminino em latim.

 

Os títulos que identificam os testamentos passaram de velhos e novos para antigos e novos. Testamento é palavra que deriva do grego diatheke, o pacto, a aliança entre o Senhor e seres humanos, expressão vertida para o latim como testamentum, na tradução da Vulgata, versão com objetivos mais populares. Portanto, uma biblioteca produzida em diversos tempos e de várias formas, com um único propósito: o divino.

 

Os estilos literários adotados são tão variados quanto os assuntos, relatando o lado humano perverso, mas também a bondade e a justiça divinas. Pensar, sentir e escrever são demonstrações de sentimentos profundos. Ajudam a superar inquietações, desvendando segredos da alma. Resumem o mundo em palavras inspiradas. Ser exemplo e inspiração para o próximo é amá-lo transmitindo a nossa alma, ensinando que de fato importante é o pão celeste para a vida. É leitura para todos os dias. O que tem a dizer nunca se esgota. A Palavra, como a consideramos, é hours concours. Não está em nenhuma competição. Nem precisa: fora de disputas, invencível, atravessa os séculos. Ineditismo puro. Claro que existem autores espetaculares, como Miguel de Cervantes com seu Dom Quixote; Dante Alighieri e A Divina Comédia; William Shakespeare e suas obras fantásticas, como Hamlet; Camões e Os Lusíadas. Mais, muito mais, compõem esse acervo cultural precioso para as nossas vidas, abrangendo o universo precioso do conhecimento. As Escrituras são sagradas porque inspiradas por Deus. 

 

Exatamente nelas, estão aulas de literatura e poesia. Escrevo, logo existo, poderíamos parafrasear com um filósofo contemporâneo, o francês Descartes. Justamente na Bíblia, encontramos algumas peças literárias inseridas entre as mais belas do mundo. Poemas e poesias se completam por meio dos 66 livros do Antigo e do Novo Testamento.

 

Precisamos saber as razões. Um poema expõe em versos, estrofes e rimas, visões sensíveis de fatos ou cenas de contemplação. A poesia pode abranger a pintura, a escultura, e assim provocar emoções que podem ser profundas, como De profundis, o Salmo (130), que João Wesley ouviu, cantado, na Capela de São Paulo, na manhã de 24 e maio de 1738. 

 

Best-seller
Na Bíblia, as emoções profundas podem se fundir. Camões chorou no exílio amargo, vítima de um naufrágio. O povo de Deus chorou, inconsolavelmente triste, fora da sua terra, levado cativo na invasão da Babilônia por Nabucodonosor (Salmo 137). Há uma simetria aqui.

 

Percebe-se que a literatura, cuja alma é a poesia, pode perfeitamente integrar-se à teologia. É impressionante observar o estilo das narrativas, que além de misturar literatura com poemas e poesias, absorve filosofia e até mitologia, que em certos momentos se interligam. O cântico de Débora (Juízes 5), é um poema extraordinário. O estilo de Isaías, ao narrar antecipadamente a ressurreição, é o de um autêntico profeta lírico: “Céus, derramai o vosso orvalho, nuvens chovei o justo, abra-se a terra e brote o Salvador” (Isaías 45.8). O cântico de Maria (Magnificat – “engrandece”), (Lucas 1), tem semelhanças com um salmo de louvor, parece até uma prévia do sermão montanhês. É obra de arte ao descrever Jesus, ainda no ventre materno, tremer de alegria ao ouvi-la apresentar-se diante do Senhor. Os escritores bíblicos, manejando a Palavra, mostram o retrato de cada autor, falando ao coração. Um corpo é pintado com pincel. Uma alma é descrita com a pena. 

 

O único livro do planeta que tem Deus como escritor é a Bíblia, o maior best-seller de todos os tempos. Eventual divergência na contagem dos 66 livros acontece pela forma com que os livros são relacionados. Por exemplo: os judeus contam Samuel como um livro só; nós, como dois. Além de descrever fatos passados, o que aconteceu e prever o que ainda está por vir, o Senhor proporciona ao leitor a graça para que se encontre consigo mesmo. Você pode ser a personagem da poderosa terapia divina. Precioso isso, como soube Margherite Yourcenar escrever, em literariamente invejável, na primeira pessoa do singular, o seu Memórias de Adriano: “o verdadeiro lugar de nascimento é aquele em que lançamos pela primeira vez um olhar inteligente sobre nós mesmos” (p. 40). É exatamente o nascer outra vez dito por Jesus ao estupefato Nicodemus. Ótima percepção, porque é realmente um momento de grande felicidade ou uma hora amarga, pois entramos no nosso íntimo. É uma evolução sair da bolha que nos aprisiona em limites de conhecimento. A escritora tem toda a razão ao dizer que Sócrates, o grande filósofo grego, ensinava que conseguia saber apenas que não sabia nada. Parece contraditório. Mas não é. Compreender que é preciso conhecer ainda mais, é próprio só de quem, sabiamente, admite a existência de incontornáveis limites. Vivemos aprendendo.

 

Existem fronteiras naturais, que se apresentam para cada um. Século para século. Podemos exagerar na importância de divisões paroquiais meramente administrativas, por causa de um ponto específico ou maneiras diferentes de pensar ou comportamentais. Mediocridade e baixeza, presunção e estupidez da alma, podem se retroalimentar em coisas sem importância alguma.

 

Com a Bíblia, é completamente diferente: ao nos permitir um encontro mais robusto com o divino, contempla a vida espiritual de cada um. Há trechos que parecem terem sido escritos especialmente para nós. Dentro dela, não cabem frívolas espumas ideológicas ou conceitos gastos. Não há espaço para intelectual que cultua a preguiça de pensar. As Escrituras nos estimulam a conhecer a vastidão do mundo, embora não pertençamos a ele, e assim conhecendo fazer de tudo ao nosso alcance para transformá-lo. Não se trata de passar triturando sobre quem não pensa igual a mim, o que acontece entre grupos que se odeiam e não debatem. 

 

Está, mais do que na hora, de ficarmos atentos: o aclamado Estado laico é repetidamente desprezado por alguns impostores, muitos caricaturais, que exploram a credulidade alheia e ousam esquematizar coisas ridículas, rudimentares e estapafúrdias. Tais sandices não são exclusivas apenas de uma ala de pensamento. Vamos nos debruçar sobre a Palavra. No princípio, como sabemos, era o Verbo (João 1). Verbo, logos, a expressão de Deus em pensamento. Deus fala na criação, pelo Filho unigênito (o único que procede diretamente de Deus, o Pai Eterno), fala pelos profetas e pelo Espírito Santo, pode falar também como voz que proclama por nosso intermédio. Em casa, na meditação individual, na Escola Dominical, nos púlpitos, no intercâmbio que destaca virtudes, na oração pessoal. A Palavra (“testifica de mim”) produz um encantamento profundo ao traduzir a gênese de tudo e de todos. Codificada e decodificada, mostra tempos que não vivemos, tomando conhecimento de culturas diferentes, imaginando o que podemos fazer. A Palavra é reconhecimento. Quem fomos? Quem somos? Responda para você mesmo se anda para frente, pelos lados ou se prefere o caranguejo andando para trás. 

 

Pensar com a Bíblia
As Escrituras formam um conjunto que precisa ser lido com o coração e cérebro juntos. Contém poemas épicos. Poesias maravilhosas. Revelação para ignorantes e eruditos. Compêndio de teologia. A nossa inteligência expressando ideia. Somos instados a agir como as crianças, que não sabem o que é malícia. Conhecimento produz esclarecimento para chegar ao entendimento, pensando como adultos, nutridos espiritualmente.

 

Conhecimento e esclarecimento levam ao entendimento. Pensar com a própria cabeça. A salvação é individual. Graças ao nosso bom Deus, a Bíblia possui profundo significado na nossa conversão e estender seu conteúdo para outras pessoas alcançarem a redenção faz parte da nossa missão. Como Filipe fez para o eunuco, oficial da rainha dos etíopes, explicando para ele as revelações contidas no livro de Isaías. Reação: quis ser batizado! O eunuco exclamou: “creio que Jesus Cristo é o Filho de Deus” (Atos 8.26-39).

 

Ajude-nos o Senhor a proceder do mesmo modo. Muitos eunucos estão à nossa espera. Filipe é um modelo de fé e ação. 

 

Percival de Souza


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