Toque Divino

Publicado em Artigos, por Redação em 18/07/2025


Estamos chegando a uma centúria, um século. A lon gevidade de 96 anos não é coisa para qualquer um. Existir e resistir a todo esse tempo é uma façanha. Uma prova de f idelidade de quem faz e de quem lê. Significa gerações. Espelha que além de edificar, a revista é vivificante. Tem um coração missionário como se fosse uma professora so bre Deus.

 

Nossa Voz Missionária está, desde 1926, sob a pleni tude de uma unção, como definido nos Salmos 23.5. Re cebida a bênção que se transforma numa unção, torna-se testemunha e construtora da própria e magnífica História.

 

Mas o que é receber uma unção? Do latim unctio, tra duz que, ao receber uma consagração, ela se torna capaci tação para despertar sensibilidades, transmitir percepção, estimular o ato de servir. No hebraico, era mashiach – o consagrado, fazendo parte da liturgia para consagração de reis, sacerdotes e profetas. Era a simbolização da presença do Espírito Santo, contemplando com a autoridade divina, centralizada na vida dos ungidos. Exemplos múltiplos: Sa muel, Arão e filhos, Elias, Eliseu. Nosso Mestre Jesus é o ungido de Deus, o Messias anunciado.

 

Nossa revista recebe, ungida, autoridade espiritual ao espargir textos, crônicas, poemas, informações, estímulos, a vida nas comunidades de fé, o prazer e a alegria da lei tura, um guia para devocionais, reuniões de oração... tan ta coisa! Um poderoso toque divino. O teólogo e filósofo francês Teilhard Cardin, no século vinte, afirmou que é exatamente a gênese da Voz, exprimindo tais virtudes ao escrever: “não somos seres humanos tendo experiência es piritual, mas seres espirituais tendo experiência humana”. Poderíamos chamar a isso de expertise, com um sentido ainda mais amplo: ungidos, passamos a ser seres humanos especiais, usando o nosso saber com autoridade, transmi tindo conhecimento – o abrangente sentido da nossa re vista.

 

Sendo ungida, nossa Voz mostra que nos esforçamos, por meio dos nossos talentos, para ter maior intimidade com Deus. A nossa fé em ação. A base bíblica, nosso guia dessa fé, fornece variadas lições. Primeira João 2.20: “...e vós possuí unção que vem do Santo, e todos tendes conhe cimento”. Recebendo esse privilégio, assumimos automa ticamente compromisso e encargo, o que nossa revista tem feito ao longo dos seus 96 anos.

 

Nos Salmos 28.8, vemos que “o Senhor é a força do seu povo, o refúgio do seu ungido”. Sabemos disso mui to bem: não se constrói 96 anos de história sem enfrentar 10 turbulências, desafios, lutar estoicamente pela sobrevivên cia. O Senhor foi e é o nosso refúgio, sempre nos prote geu e abençoou. O Senhor dá poder ao seu ungido para alcançar a vitória, por mais difíceis que sejam os desafios.

 

No primeiro livro das Crônicas, 16.22, nos é assegu rado: “Não toqueis nos meus ungidos, não maltrateis os meus profetas”. Essas palavras são repetidas, ipsis litteris, nos Salmos 105.15.

 

O ritual da unção é descrito em Êxodo 40.9: “e tomarás o óleo da unção e ungirás o tabernáculo e o consagrarás com todos os seus pertences; e será santo”. Moisés fez exatamente isso, como descrito em Levítico 8.10: “...to mou o óleo da unção e ungiu o tabernáculo, e tudo o que havia nele, o consagrou”.

 

ALEGRAI-VOS NO SENHOR

Alegramo-nos quando recebemos nossa missão. Para nós, ecoando a nossa voz, são informações e revelações que transmitem grande alegria. Além do clássico “parabéns a você”, nosso aniversário é motivo de grande satis fação. “O azeite que dá brilho ao rosto”, Salmos 104.15, a marca da unção.

 

Óleo? Azeite? Jubileu de oliveira? A vida está salva, no ticiou a pomba da Arca de Noé (Gênesis 8.11), transmitindo a grande notícia com uma folha de oliveira no bico. No jubi leu, fazemos a nossa parte para anunciar a salvação.

 

Oliveira é uma árvore que produz azeitona e azeite. É um óleo vegetal. Jesus gostava de ir ao Jardim das Olivei ras. O Monte das Oliveiras. Na última vez, foi orar, isolado. Os discípulos ficaram dormindo. Estava chegando a hora. Ele ajoelhou-se, suou como em gotas de sangue, que cor riam até o chão. O lugar foi o Getsêmani, um jardim cujo nome deriva do aramai co gat shemen, em nosso idioma “prensa de azei te”. A árvore tem longa vida, ultrapassa dois mil anos. Nos velhos tempos, como conta a parábola do bom samaritano, o óleo era usado para cuidar de enfermos e feridos, como o personagem fez com o homem vítima de assal tantes, quando descia de Jerusalém para Jericó. Foi socorrido, em grande exemplo de amor ao próximo. Ungir é palavra oriunda do grego aleipho, que tem o sentido de massagear, friccionar, untar. À época da parábola, era o tratamento médico possível, o que deixa claro a evolução dos tempos que permite usar modernos recursos médicos, mas nunca deixando de lado a oração, como constatamos em Tiago 5.14.

 

[Estive nesse lugar, em Jerusalém, e nele estão deze nas e dezenas de oliveiras, atestando a sua longevidade. O jardim emociona profundamente. É impossível conter as lágrimas estando no palco dos acontecimentos, pisando os mesmos caminhos trilhados pelo Senhor. É parte da História da Salvação, ao vivo. Ao mesmo tempo, um senti mento de dor por imaginar a solidão numa hora daquelas. Lugar para meditar, orar, agradecer, entrar em si mesmo, lembrar-se de tudo o que aconteceu para que Ele pudesse nos oferecer a salvação.]

 

Ungidos estamos. Pela revista, quase cem longos anos. Sentimento de missão que está sendo cumprida. Desfrute da Graça. Deus vindo ao nosso encontro.

 

CORAL CELESTE

Publicar revista é um processo. Planejar, produzir, sele cionar, fazer edição, tudo para que o conteúdo seja forma tado. Também é um processo de educação cristã. Exige-se antes educar a mente, porque como ensinou o filósofo gre go Aristóteles, educar a mente sem educar o coração não é educação. Para ensinar, como escreveu Eça de Queirós, há um requisito fundamental: saber. É o que recomenda o apóstolo Paulo (Romanos 12.7): “o que ensina, esmere-se no fazê-lo”.

 

Temos nos esmerado. No caso da nossa revista, jun tamos voz e vozes. Nossas agentes locais, regionais e as Sociedades são maestrinas. Nós que fazemos, e vós que fazem na leitura. Passa a ser um coral gigantesco. O som é magnífico. O destaque da voz é prioritário em relação aos instrumentos musicais. Capturado em Jerusalém e cativo na Babilônia, o povo hebreu pendurou suas harpas nos salgueiros e não cantava, como pediam os algozes. Ao contrário: choravam (Salmos 137). A voz é um dos meios da comunicação humana. Nossa voz, reverberando, é bem alta. Pode ser repartida em tom baixinho. É forma de expressão emocional e artís tica. Temos belas vozes em nossos corais. João Wesley, na manhã do coração aqueci do, ouviu um salmo cantado (130), na majestosa Catedral de São Paulo, em Londres. Podemos até ser identificados pela nossa voz. Grave. Aguda. Cantada. Monólogo. Con junto. Entonação modulada. Percepção emocional. Canto gregoriano. Entre os protestantes, não se aplica a extre ma unção, adotada entre os católicos como “unção dos enfermos” e também aos próximos da morte.

 

A nossa história é longa, pode ser contada de muitas maneiras. Já mudamos de endereço (ah, o Largo da Pólvo ra!), mas nunca de conteúdo. Por nossas páginas passaram grandes figuras do metodismo, escrevendo, testemunhan do, partilhando momentos de suas vidas, servindo para in formar e edificar, ajudando a transformar vidas. Passamos pelo vale da sombra da morte, e sem temer mal algum, pulamos as pedras de tropeço colocadas no caminho, fa zendo de tudo para que das nossas páginas exalasse o bom perfume de Cristo.

 

Vencemos. Graças a vocês, que nos alimentaram com muita força e energia, para continuar onde estamos. Aos que por aqui passaram, a nossa lembrança in memoriam. Aos que conosco continuam, nosso beijo e abraço de gra tidão. Temos absoluta certeza de que passado e presente da nossa bela história receberão do Altíssimo o prêmio do galardão.

 

Percival de Souza


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